Mais de duas centenas de pessoas associaram-se, esta terça-feira, ao presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, e ao Secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, na homenagem a Lino Lima, um distinto advogado famalicense que se destacou como uma das principais figuras da Oposição Democrática à ditadura do Estado Novo.
A abertura das comemorações do centenário de nascimento de Lino Lima, brindada por um solarengo dia de inverno, ficou marcada pela inauguração da Praceta Lino Lima situada entre a rua Conselheiro Santos Viegas e a rua Manuel Pinto de Sousa, junto aos Paços do Concelho, onde se concentraram familiares, admiradores e muitos populares que quiseram associar-se à homenagem.
Paulo Cunha salientou a importância da criação de “um marco no espaço público, que perpetua e dignifica a memória de Lino Lima na consciência coletiva”. “Esta sessão pode ser efémera, mas a Praceta é uma marca que caraterizará para sempre Vila Nova de Famalicão eternizando o riquíssimo legado que nos deixou”, salientou.
Paulo Cunha falava durante a sessão solene que juntou personalidades e militantes de vários quadrantes políticos, onde todos destacaram a luta levada a cabo pelo advogado que, nascido no Porto, cresceu e viveu em Famalicão, tendo sido a partir de sua casa que, em abril de 1974, foi criado o centro de trabalho do PCP local.
O autarca destacou que Lino Lima "teve um importante papel na construção de um estado de direito democrático em Portugal", considerando ser "relevante perceber" que entre os famalicenses "viveu um homem com essas características e caráter".
"Sem amarras ideológicas, sem espartilho partidário, decidimos organizar esta cerimónia e um conjunto de iniciativas em parceria com o PCP”, referiu ainda o autarca.
Por sua vez, Jerónimo de Sousa recordou Lino Lima. "Estamos a homenagear um homem de convicções e de caráter que desde cedo fez opções, colocando-se ao lado dos injustiçados, dos mais frágeis, do lado da democracia e da liberdade", referiu.
O líder dos comunistas contou que "a maior alegria" de Lino Lima, que aderiu ao PCP em 1941 e foi preso político por quatro vezes, "foi a revolução libertadora de 1974".
"Veio a tornar-se um dos advogados mais importantes quer da Comarca, quer na defesa dos presos políticos nos Tribunais Plenários. Homem sério que tinha da política uma conceção de servir e não de se servir" referiu o secretário-geral do PCP.
Na cerimónia também participou, em representação da família, um sobrinho de Lino Lima, José Aguiar, que além de agradecer "o reconhecimento e estima" pelo tio, apontou que o homenageado "entenderia e estenderia esta homenagem a todas as mulheres e todos os homens que lutaram e lutam pela liberdade".
Entretanto, coube ao investigador Artur Sá da Costa apresentar Lino Lima e contextualizar a homenagem. Segundo Sá da Costa é importante perceber que "a liberdade tem uma história e Lino Lima faz parte dessa história."
A homenagem contou ainda com a abertura da exposição itinerante “Lino Lima – Uma Vida pela Liberdade”, que está patente no átrio dos Paços do Concelho até à próxima semana, podendo depois ser visitada na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco.
O programa evocativo que vai prolongar-se ao longo de 2017 prevê ainda a realização de um colóquio sobre a plurifacetada personalidade de Lino Lima: o cidadão, o advogado, o oposicionista à ditadura, o deputado, e a edição de uma brochura com depoimentos/testemunhos de familiares e amigos
Nascido no Porto, Lino Lima veio com os pais, ainda criança, para Vila Nova de Famalicão, onde cresceu, viveu e trabalhou. Veio a tornar-se um dos advogados mais importantes do seu tempo, quer na comarca, quer na defesa dos presos políticos nos Tribunais Plenários. Apesar disso, teve uma intensa atividade política, inicialmente na clandestinidade e, no final da grande guerra na “luta legal”, ligando-se aos movimentos políticos criados ou apoiados pelo PCP, como o MUNAF e o MUD, a cujas comissões nacionais pertence.
Esteve com as candidaturas presidenciais de Ruy Luís Gomes e Humberto Delgado, participando ativamente nas eleições legislativas para a Assembleia Nacional de 1957 e 1969, assim como nos Congressos Republicanos de 1957 e 1969, e no Congresso da Oposição Democrática de 1973, onde tem um papel destacado, integrando as respetivas Comissões Nacionais e Executivas e ao fazer intervenções políticas.
Tornou-se Líder da Oposição Democrática do Distrito de Braga, que nos anos 60 ousou autodenominar-se “Os Democratas de Braga”, granjeando notoriedade nacional ao lado de Victor Sá, Santos Simões, Humberto Soeiro e Eduardo Ribeiro.
A Câmara municipal de Vila Nova de Famalicão atribuiu a Lino Lima, em 1996, a medalha de honra do município, e no mesmo ano o Presidente da República, Jorge Sampaio condecorou-o com a Grã Cruz do Infante. Em 9 de Janeiro de 1999, a Assembleia da República aprovou por unanimidade um voto de pesar pela sua morte. Idêntica atitude tomou em 26 de Fevereiro de 1999 a Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão.