Chama-se Fauna, o novo espaço de criação e programação artística de Vila Nova de Famalicão. A antiga vacaria da Quinta da Bem-Posta, em Joane, que também já serviu de local de eventos é agora o novo centro gravitacional da produção e programação artística do Teatro da Didascália. O caráter inovador do projeto que respira o ar puro da natureza, criando a simbiose perfeita entre a criação da vida e a criação artística e cultural justificou uma visita ao local do presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, na passada sexta-feira, no âmbito do roteiro pela inovação no concelho.
Há dez anos sedeada na vila de Joane, a companhia de Teatro da Didascália é promotora entre outros eventos do Festival Internacional Vaudevile Rendez-Vous que percorre as cidades do quadrilátero do Minho – Braga, Guimarães e Famalicão e dos Contos D’Avó.
“Queremos cada vez mais desconstruir a ideia de um teatro convencional. Desde logo, estamos numa quinta, este espaço não era um teatro, era uma vacaria”, explicou o diretor artístico da Didascália, Bruno Martins. “Queremos que este local se torne num espaço de criação artística pessoal, que possa ser apropriado pelo público e não seja simplesmente um espaço de passagem institucional”. Por outro lado, “os criadores poderão olhar e envolver-se com este espaço e trabalhar artisticamente de uma forma transdisciplinar e hibrida”, realçou, acrescentando que todo “espaço envolvente será também um palco.” “Quem nos conhece sabe que trabalhamos o teatro fora de formato, cruzamos o movimento, a manipulação de objetos, o circo e a música, e aqui o publico poderá esperar um pouco de tudo isto”, adiantou ainda Bruno Martins.
Para já, o Fauna estreará com “Territórios Dramáticos” de 18 a 28 de maio, como observatório dedicado à dramaturgia nacional. Para além deste evento, o Fauna tem já definida uma programação cultural regular até julho. O diálogo entre arte e natureza marcará “Mater”, um ciclo de seis concertos no campo da música experimental, que decorre de Junho até Dezembro, com alusão aos cinco elementos do naturalista chinês Tsou Yen – terra, madeira, água, fogo e metal. “É um ciclo pensado para dialogar com o espaço natural do espaço Fauna e que terá apresentações não só no espaço físico da sala, como no espaço exterior”, diz Bruno Martins. A outra iniciativa de raiz, “Música da Época”, arranca também em Junho e funde a cozinha e a música num só momento cultural, agendado para o primeiro domingo de cada mês. “Os músicos farão a música em função do que está a ser cozinhado, mas também a cozinha vai funcionar segundo os estímulos musicais”, explica o diretor do Teatro da Didascália, realçando a intenção de promover alimentos produzidos localmente.
Refira-se que o Teatro da Didascália que conta com o apoio do município de Famalicão viu recentemente a sua candidatura na área dos cruzamentos disciplinares aprovada pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes), com uma das cotações mais altas do país, cerca de 176 mil euros em 2018 e 193 mil euros em 2019.
Neste âmbito, o presidente da Câmara Municipal, Paulo Cunha, enalteceu a qualidade do projeto da Didascália, por garantir o apoio da Direção-Geral das Artes num “contexto de contração”. “É o reconhecimento da enorme qualidade do projeto”, salientou.
Paulo Cunha elogiou ainda a capacidade do Teatro da Didascália para manter a ligação às raízes, apesar do seu trabalho chegar já a todo o país. “Um excelente exemplo de como se pode criar um bom projeto cultural fora dos grandes centros urbanos. A Didascália não precisou de sair do seu contexto para ganhar dimensão, para chegar aos palcos nacionais e internacionais”, destacou o autarca.
Refira-se que o espaço Fauna conta com uma sala não-convencional para a apresentação de espetáculos, rodeada por jardins e floresta, onde serão desenvolvidas e programadas obras em contexto site-specific. O objetivo passa por criar um ponto de encontro dos diferentes públicos no âmbito dos vários projetos transdisciplinares da companhia a nível local e regional, como o circo contemporâneo, o teatro, a música e o património. Um espaço de fruição artística alternativo a espaços culturais mais institucionalizados, o Fauna será ainda o local privilegiado no que respeita a um trabalho de desenvolvimento continuado dos públicos locais, através de iniciativas regulares de programação e formação.