“Até que se ia aproximando o 9 de Abril, esse dia horroroso em que se travou um dos mais terríveis combates com os Portugueses”. José Gomes Pereira não poupou nas palavras para descrever o que viveu na Batalha de La Lys, em 1918, em plena Grande Guerra. “Pelas 03h30 da madrugada se travou este terrível combate, ouvindo-se os primeiros tiros. Os alemães começaram bombardeando as trincheiras fortemente e com os canhões de grosso calibre, cercando lá ao largo com milhares de granadas. Os carros de munições de artilharia portuguesa andaram num sarilho, enquanto puderam transportando granadas por debaixo do fogo inimigo. O bombardeamento era terrível por toda a parte, cortando as estradas e as comunicações telefónicas das trincheiras. Aonde quer que se viam soldados espedaçados pelos estilhaços da artilharia que se entrelaçavam por entre nós”.
O diário deste soldado natural de Vila Nova de Famalicão, que integrou o corpo expedicionário português que participou na Batalha de La Lys, foi um dos vários objetos doados por familiares e amigos de expedicionários naturais do concelho para integrar a exposição “A I Grande Guerra e a sua repercussão em Vila Nova de Famalicão”, inaugurada esta segunda-feira no Museu Bernardino Machado, no âmbito das comemorações do centenário do combate.
A inauguração da mostra, que vai estar patente até inícios de junho, foi um dos pontos altos das celebrações promovidas hoje pela autarquia de Vila Nova de Famalicão, marcadas por duas palavras de ordem: memória e gratidão.
“É importante não esquecermos os que sacrificaram a sua vida a defender, com dignidade, a nossa bandeira e a nossa pátria. De Vila Nova de Famalicão partiram para França cerca de quinhentos homens, temos uma ligação forte com este momento da nossa história e, por isso, não podíamos deixar passar em branco este primeiro centenário da Batalha de La Lys”, referiu a propósito o vereador da Cultura da autarquia, Leonel Rocha.
O dia ficou ainda marcado pela celebração de uma missa em honra dos ex-combatentes, pelo descerramento de uma lápide comemorativa no monumento “Aos Mortos da Grande Guerra”, localizado na Praça 9 de Abril, e ainda pelo lançamento e apresentação do “Dicionário dos expedicionários famalicenses (1914-1918)”, obra lançada pela Câmara de Famalicão da autoria do investigador Amadeu Gonçalves e que desvenda os nomes dos cerca de 500 famalicenses que combateram em La Lys e que responde a perguntas como: “O que lhes aconteceu?” “Quem foi feito prisioneiro?” “Onde?” “Quem sobreviveu?” “Quem morreu?”.
Recorde-se que a Batalha de La Lys foi considerada um dos maiores desastres militares da história de Portugal.