Na próxima segunda-feira, 23 de outubro, assinalam-se os 150 anos do nascimento de Manuel da Silva Mendes, um famalicense que se distinguiu como um dos intelectuais mais representativos da história de Macau, no primeiro quartel do século XX.
De espírito multifacetado, Manuel da Sousa Mendes foi professor e reitor do Liceu de Macau, advogado, juiz, filósofo, político, sinólogo, escritor e teve ainda tempo para se dedicar ao estudo da filosofia taoísta e para se embrenhar nos exigentes meandros da arte chinesa, como erudito e colecionador.
Para assinalar a data a Associação Amigos do Livro em Macau com o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e da Fundação Jorge Álvares promovem um colóquio, que vai decorrer na próxima segunda-feira, no Centro de Estudos Camilianos, em São Miguel de Seide. A iniciativa ficará ainda marcada pelo lançamento do livro “Manuel da Silva Mendes: Memória e Pensamento”.
No colóquio, que terá início às 9h30, e se prolongará na parte da parte, participam Ana Cristina Alves (“O taoismo de Silva Mendes”), António Aresta (“Manuel da Silva Mendes, um intelectual português em Macau”), António Graça de Abreu (“Manuel da Silva Mendes e Camilo Pessanha, a Inimizade Inteligente”), Amadeu Gonçalves (“Manuel da Silva Mendes: 150 Anos entre V. N. de Famalicão e Macau e/ou entre o anarquismo e o taoismo”), Aureliano Barata (“Manuel da Silva Mendes: um olhar sobre Macau e o seu ensino”), Norberto Cunha (“Silva Mendes e o Marxismo”) e Rui Lopo (“É preciso fazermo-nos chineses”: Do Orientalismo à Sinofilia – do expatriamento ao voto de Bodhisattva).
Pelas 18h00, será lançado o primeiro volume de uma coletânea sobre Silva Mendes, com cerca de 600 páginas, com o título “Manuel da Silva Mendes: Memória e Pensamento” que contém três ensaios sobre esta importante figura da história social de Macau, de autoria de António Aresta, Amadeu Gonçalves e Tiago Quadros, e todos os textos de Silva Mendes sobre Arte, Filosofia e Religião, Cultura e Tradições Chinesas publicados na Imprensa e em livro.
Segundo a editor Livros do Oriente, o testemunho e a obra de divulgação de Manuel da Silva Mendes – o exemplo de um português que conheceu, compreendeu e divulgou a cultura e as tradições chinesas – são únicos e, por isso, não podiam deixar de ser reeditados.
Silva Mendes, advogado, professor e intelectual, natural de São Miguel das Aves, na altura pertencente ao concelho de Vila Nova de Famalicão, e viveu em Macau, de 1901 a 1931, ano em que morreu.
Para além da bibliografia produzida em Portugal até à ida para Macau, tem vasta obra publicada neste território, sobretudo em publicações periódicas, que viriam a ser reunidas em volumes coordenados pelo sinólogo macaense Luís Gonzaga Gomes, nos anos 60 do século passado.
Foi também, na época, um dos maiores colecionadores de arte chinesa, constituindo o seu espólio, adquirido à viúva pelo Governo de Macau pouco depois da sua morte, um acervo muito importante do Museu de Arte de Macau.
Dominando a língua chinesa e profundo conhecedor da sua cultura, Silva Mendes foi, no início do século XX, o principal e o primeiro divulgador da Cultura, da Filosofia e da Religião Chinesas, conhecimento que lhe advinha do contacto direto com artistas, pensadores e com os bonzos – sobretudo do mosteiro de Choc Lam – com quem privava e discutia estes assuntos.